Maria de Fátima Santos
ou eles, por razões que não trago a este texto, nem terão tido mais escolha do que Séneca
Salgari, Hemingway, Camilo e Antero são apenas exemplos de escritores, de entre muitos criativos, que escolheram partir deste mundo em dia aprazado.
Como Mishima e Virgínia Woolf, usaram modos solitários ou tornaram o momento da sua ida para o Além um evento público.
E nem todos deixaram registos tão directos como Cesare Pavese no seu diário:
"Os suicidas são homicidas tímidos"
ou no bilhete que deixou e terá sido seu testemunho:
"Não mais palavras. Um acto. Não voltarei a escrever. "
Mas numa frase, num poema, cada um denotará a sua pulsão no confronto com a morte, como Florbela Espanca no poema A UM MORIBUNDO
Não tenhas medo, não! Tranqüilamente,
Como adormece a noite pelo Outono,
Fecha os teus olhos, simples, docemente,
Como, à tarde, uma pomba que tem sono...
A cabeça reclina levemente
E os braços deixa-os ir ao abandono,
Como tombam, arfando, ao sol poente,
As asas de uma pomba que tem sono...
O que há depois? Depois?... O azul dos céus?
Um outro mundo? O eterno nada? Deus?
Um abismo? Um castigo? Uma guarida?
Que importa? Que te importa, ó moribundo?
- Seja o que for, será melhor que o mundo!
Tudo será melhor do que esta vida!...
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
aqui deixo registo a dizer assim do meu espanto
e nisso a minha vénia e o meu pranto
* "O suicidio é o sublime valor dos vencidos" - Maupassant que tendo tentado suicidio, morreu num acidentede carro
adaptação do texto publicado no blog repensando